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Eis que o caboclo veio à Terra “anunciar” a Umbanda! abril 8, 2009

Posted by raizculturablog in Cultura & Massas.
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A manifestação de espíritos de negros e de índios, tão comuns na Umbanda, já ocorria espontaneamente nos rituais da macumba desde meados do século XVIII. Longe de ser um culto organizado, a macumba era um agregado de elementos da cabula bantu, do Candomblé jeje-nagô, das tradições indígenas e do Catolicismo popular, sem o suporte de uma doutrina capaz de integrar os diversos pedaços que lhe davam forma. É desse conjunto heterogêneo,acrescida de elementos egressos do Kardecismo, que nascerá a nova religião.

Mas de onde vem a Umbanda? Acredita-se que o vocábulo “umbanda” designasse,entre os africanos, sacerdote que trabalha para a cura. Na macumba, o vocábulo “embanda”ou “umbanda” também designava o chefe do terreiro ou, simplesmente, sacerdote. Nunca uma modalidade religiosa. O umbandista Matta e Silva relata no livro Umbanda e o Poder da mediunidade que o vocábulo “umbanda”, como bandeira religiosa, não aparece antes de 1904.

Entretanto, no depoimento deste mesmo autor, encontra-se o registro de que, em 1935, conhecera um médium com 61 anos de idade, de nome de Nicanor, que praticava a Umbanda desde os 16 anos, ou seja, desde 1890, incorporando o Caboclo Cobra Coral.

Outro autor umbandista, Diamantino Trindade,reproduziu no livro Umbanda e Sua História parte de uma entrevista do jornalista Leal de Souza – publicada no Jornal de Umbanda, em Outubro de 1952 – na qual afirmava que o “precursor da Linha Branca fora o Caboclo Curuguçu , que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas”

Misto de lenda e de realidade, a “anunciação” da Umbanda sofre algumas variações de narrador para narrador, mas a estrutura básica se mantém inalterada. Zélio de Moraes, aos 17 anos, começou apresentar alguns distúrbios os quais a família acreditou que fossem de ordem mental e encaminhou o rapaz para um hospital psiquiátrico.

Dias depois, não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, foi sugerida à família que lhe encaminhasse a um padre para um ritual de exorcismo. O padre, por sua vez, não conseguiu nenhum resultado.
Tempos depois Zélio foi levado a uma benzedeira conhecida na região onde morava que lhe diagnosticou o dom da mediunidade e lhe recomendou que “trabalhasse” para a caridade.

Por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói,no dia 15 de novembro de 1908. Ao chegar à Federação foi convidado pelo dirigente daquela instituição a participar da sessão. Logo em seguida, contrariando as normas do culto, Zélio levantou-se dizendo que ali faltava uma flor. Foi até um jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa. A atitude do rapaz provocou uma estranha confusão no local: ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns apresentaram incorporações de caboclos e preto-velhos. Advertido pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no
rapaz perguntou por que era proibida a presença daqueles espíritos. Outro médium, que tinha
o dom da vidência, quis saber da entidade o porquê dela falar daquele modo, pois via que era
um padre jesuíta e lhe perguntou o nome. A resposta foi:
(…) se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã
estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios
poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes
confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que
deve existir entre todos os irmãos encarnados e desencarnados. E se querem saber
meu nome que seja Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos
fechados para mim. (GUIMARÃES e GARCIA, 2002, não paginado).
No dia seguinte, no bairro de Neves – município de São Gonçalo, região metropolitana
do Rio de Janeiro –, estavam presentes à casa do médium membros da Federação Espírita,
parentes, amigos, vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Às 20 horas, o
caboclo se manifestou no corpo de Zélio de Moraes e disse que naquele momento iniciava-se
um novo culto, no qual os espíritos de africanos e de índios poderiam trabalhar em benefício
de seus irmãos encarnados e disse, também, que a nova religião se chamaria Umbanda. O
grupo fundado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, porque “assim como Maria acolhe em seus braços o Filho, a Tenda acolheria aos que a ela recorrerem nas horas de aflição”

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